Peça do Mês Julho
área de conteúdos (não partilhada)Descrição: Almofada de Alfaiate
Medidas: comp.:50cm; larg.:23; esp.:14cm.
Material: Têxtil e serradura (madeira)
Datação: Anos 50 séc. XX
Doadora: Celeste Jesus do Rosário
Morada da doadora: Ribeira de Baixo – Porto de Mós
Número de inventário: 1404
Quando nos dias de hoje falamos em alfaiates temos duas ideias em mente: uma profissão tradicional, parcialmente esquecida pelo mundo do pronto-a-vestir. E, por outro lado, uma profissão que, reganha, nalguns meios, um glamour associado aos fatos de homem, feitos à mão, verdadeiras obras-primas do artesanato.
Neste mês de julho evocamos a alfaiataria e, como peça do mês, apresentamos a Almofada de Alfaiate. De grande ajuda para o artesão, era utilizada como base para moldagem da caixa de peito em entretela que se aplicava nos casacos, também como base para se passar a ferro o casaco na zona do peito após aplicação da dita entretela e nos ombros dos fatos.
No nosso caso, a peça que trazemos pertenceu ao alfaiate, senhor Joaquim Carreira Franco (20-02-1932) - marido da doadora. Filho de agricultor, desde jovem se interessou pela profissão de alfaiate, começando por aprender a profissão no concelho vizinho da Batalha e terminando a sua aprendizagem no lugar de Alcaria – Porto de Mós.
Com uma observação mais atenta à peça apresentada, quanto à sua utilização na profissão de alfaiate, consideramo-la digna de ser a peça de destaque para as comemorações nos dias 23 e 24 do corrente mês. No dia 23 - Dia do Alfaiate e da Modista – destacamos as profissões tradicionais de criação de roupa artesanal e exclusiva, confecção por medida do cliente e de acordo com as suas preferências. Profissões de grande destaque na sociedade num passado recente, sofreram um grande revés devido à evolução industrial e ao aumento de modelos e feitios diversos que satisfizeram os variados gostos, conjuntamente com preços acessíveis. Na sociedade sofreu-se uma forte redução do número de artesãos, esbateu-se o gosto do exclusivo, dando preferência aos grandes espaços de venda de roupas que se adquirem no próprio momento, sem haver provas durante a confecção.
Mas, a profissão de alfaiate não desapareceu, como ao longo da história dos ofícios e artes, há o período do auge, da decadência, do manter e do ressurgimento. O alfaiate manteve-se e é hoje mais valorizado na remuneração do seu trabalho pelo número restrito de clientes. Hoje, da mobilidade das suas mãos surgem obras de arte nas quais os seus clientes se diferenciam. As ferramentas utilizadas pelos alfaiates modificam-se, a peça do mês é o registo vivo das modificações e da época do seu uso.
No dia 24 de julho, do já longínquo ano de 1305, o rei D. Dinis outorgou à vila de Porto de Mós o seu 1º foral. Passaram 714 anos, o que ainda torna mais relevante o facto desse documento evidenciar o reconhecimento, por parte do Rei, da existência de produção têxtil dando importância à produção de tecido na nossa história colectiva, “… se alguem vender peça de pano de coor na terra atamada deve levar o porteiro de cada peça dos dos soldos. Item se alguu estranho filhar de vestir em porto de moos de huu soldo de portagem de cada pano. Item se alguém vender burel em porto de moos ou pano de linho ou toucas se non for vezinho de cada huu maravidi de quatro dinheiros.”