Peça do Mês de Janeiro
área de conteúdos (não partilhada)Denominação: Porta – Cartas
Recipiente com três divisórias para correspondência
Datação: 1946
Matéria: Faiança
Decoração: relevada e policromada, em tons de azul-escuro, amarelo, verde e vinoso, sobre um fundo em tom de azul-claro. Motivos florais e vegetalista. Com inscrição: “Dr. Martinho G. Durão”
Marca: “Silva Marques”
Local de fabrico: Cruz da Légua, concelho de Porto de Mós
Medidas: comp.: 24cm, larg.: 15cm, alt.:15cm
N.º de Inventário: E571
Janeiro, primeiro mês do Novo Ano. Um mês em que tudo parece novo, abrindo à nossa frente 366 dias. Por se tratar de uma passagem, algo simbólico, há o cuidado de os amigos e familiares se comunicarem, desejando um Bom Ano. A peça que destacamos este mês inspira-se nessa tradicional troca de felicitações, evocando o meio de comunicação da mensagem mas, recuando à primeira metade do séc. XX. Como sabemos, nessa época predominavam as cartas manuscritas, tantas vezes portadoras de mensagens felizes e da boa-nova de sabermos os nossos familiares e amigos bem de saúde. Num tempo sem e-mails (Correio Electrónico), sem telemóveis e mesmo, na maioria dos casos, sem telefones, essas cartas manuscritas tinham um enorme valor. De forma a relembra-las e a comemorar o Dia da Escrita à Mão, que terá lugar no próximo dia 23, apresentamos o Porta-cartas em faiança policromada. Provavelmente esta peça foi encomendada para ser oferecida ao Dr. Martinho G. Durão, sendo possível que se refira ao Médico Martinho Gonçalves Durão (1900 - 1954).
Manualmente foi também escrita a marca identificadora da peça no seu reverso: SILVA MARQUES, CRUZ DA LÈGUA; F.S., eventualmente iniciais do nome do pintor / decorador. Esta peça é, também por isso, um exemplo do nosso ex-libris: cerâmica. Mas muito ainda há para descrever sobre a cerâmica produzida no concelho de Porto de Mós. Sendo a peça um desses exemplares, de forma a ajudar na identificação de outras da mesma marca, a qual praticamente se encontra no anonimato, iremos abordar a sua existência através das memórias verbais, cedidas pela neta do proprietário, D. Isabel Marques Narciso Frazão. No seu depoimento recorda os tipos de peças fabricadas e os documentos das encomendas e o seu destino.
Segundo se apurou, José Coelho da Silva Marques, natural da Tremoceira, era proprietário de uma Fábrica de Faianças no lugar de Cruz da Légua, ambas as localidades pertencentes ao concelho de Porto de Mós. O forte das suas encomendas levava à produção de louças regionais, entre as várias origens dos seus clientes, lembra-se a neta que tinham como destino Alcobaça, Nazaré, Fátima e Baixa da Banheira, entre outras. Ao momento da cedência destes dados, não lhe foi possível precisar com exactidão o início e o fim de laboração da fábrica, mas refere que, provavelmente teve início nos anos 30 e terá encerrado nos finais dos anos 60 do séc. XX.
Esta fábrica estava inserida num local privilegiado para o fabrico de cerâmica no concelho, Cruz da Légua (freguesia de Pedreiras), junta com a freguesia do Juncal, sendo esta uma zona rica em argilas por excelência.
Pelos motivos e cores utilizados na decoração da peça percebe-se que a localidade onde foi produzida tem como concelho limítrofe Alcobaça, pois são notórias as influências de motivos decorativos e decoração habitualmente identificados como sendo produzidos em Alcobaça.
Referenciar a memória de uma marca de cerâmica que deixou de produzir, ter conhecimento da sua existência é como um marco firme na identificação do tipo de cerâmica que existiu em Porto de Mós. Um concelho rico na produção cerâmica desde tempos longínquos até aos nossos dias, no fabrico de peças utilitárias, decorativas, de construção e de cobertura merece que não só se salvaguarde a continuidade de execução mas que esta ande a par dos registos escritos dos seus autores, recuperando uma memória que é artística, cultural e social.