Peça do Mês de julho
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FORMA
Utilizada no fabrico de meias
Datação: Anos 20 séc. XX
Proveniência: Fábrica de Meias e Peugas “Rio Alcaide” Poças, Lda – Porto de Mós
Material: madeira
Medidas: alt: 80,5cm; comp.: 20cm
Doador: José Ezequiel Poças Gomes
Morada: Porto de Mós
N.º de Inventário: 310
No dia 24 de Julho de 1305, o rei D. Dinis outorgou à vila de Porto de Mós o seu 1º foral. Um reconhecimento que enaltecemos hoje como um dos marcos históricos do concelho.
À época “… o comércio animava-se no açougue, mas também nas tendas que os tendeiros podiam armar em Porto de Mós, se bem que também lhes fosse permitido o comércio itinerante no concelho, pondo ao alcance dos compradores pano de linho, toucas, peças de vestuário e até seda (sirgo), o que demonstra uma certa capacidade económica de alguns estratos sociais do concelho, permitindo-lhes desfrutar deste requinte de melhores panos.1”
A História, já o sabemos, faz-se dos grandes momentos mas também da vida quotidiana, onde o acesso a certos tecidos, por exemplo, demonstra a capacidade económica do nosso concelho há muitos séculos. E como evoluímos desde então? Um dos nossos períodos de riqueza, já bem perto dos nossos dias, foi a indústria têxtil. Por isso escolhemos a Forma, como peça do mês para evocar os 715 anos que passaram desde esse 1º Foral e desse tempo em que se comercializavam por cá tecidos finos.
Noutros tempos mais recentes sabemos da enorme importância da indústria têxtil no nosso concelho. No caso da Fábrica de Meias e Peugas “Rio Alcaide”, Poças, Lda., foi inaugurada por volta de 1920 e deixou de funcionar cerca de 1933, sendo o seu proprietário o Padre Manuel Carreira Poças2 (pároco da freguesia de São João de Porto de Mós). A matéria-prima era o algodão branco fornecido pela fábrica de fiação de Alcobaça, de onde era transportado em carroças puxadas por bestas. Dobado e bobinado na Fábrica de Rio Alcaide, o algodão era então tecido sempre em côr branca. Tingia-se em grandes caldeirões aquecidos a lenha, sendo a cor predominante o preto. Depois de tingidas, eram metidas em formas (como a apresentada) para tomarem a forma do pé e da perna e postas a secar nos muros.
Seguia-se a prensagem que era feita colocando as meias em enormes cartões (1,5x1,5m), posteriormente empilhados debaixo da vara do lagar de azeite para espalmarem.
A mão-de-obra rondava as 12 pessoas na sua maioria raparigas, sendo o mestre da freguesia de Monsanto, concelho de Alcanena, de seu nome Alfredo (conhecido pelo Alfredo das meias).
Os principais clientes eram as lojinhas espalhadas pela Serra de Aire e Candeeiros e arredores de Porto de Mós. E com esta evocação quotidiana continuamos a consolidar os marcos da nossa História, para não perdermos os seus fios condutores.
1 - COELHO, Mª Helena da Cruz, O foral de Porto de Mós e a política dionisina de desenvolvimento concelhio, Revista de História da Sociedade e da Cultura 6, 2006, pág.47
2 – Informação escrita cedida pelo doador. O doador era sobrinho materno do proprietário da fábrica.