Peça do Mês de Março
área de conteúdos (não partilhada)Denominação: "Cullote"
Descrição: frente do cós em forma de V, encontra-se bordada a inicial do nome da autora ao meio. Com aberturas laterais fechando com nastros. Na parte inferior bordado com bainha aberta e ponto cheio, terminando com folho de bordado inglês com motivos florais.
Técnica: manual
Autora: Desidéria da Costa Alves
Datação: 1906
Matéria: Algodão
Dimensões (cm): altura - 60; largura - 32
Doadora: Maria Raquel Alves Gomes Poças
Proveniência: São Pedro - Porto de Mós
N.º de Inventário: 2422
O ano de 1975 foi reconhecido como o Ano Internacional da Mulher, promovido pelas Nações Unidas, que proclamaram dois anos depois, o dia 8 de março como Dia Internacional da Mulher. Uma data criada para lembrar as conquistas sociais, políticas e económicas das mulheres, independentemente de divisões nacionais, étnicas, linguísticas, culturais, económicas ou políticas.
Para assinalar a data apresentamos, no próximo dia 8 de março, uma peça de vestuário interior feminina, que acompanhou no tempo (início do séc. XX aos dias de hoje) a luta das mulheres para se fazerem ouvir.
No ano de 1909, em Nova York, assistiu-se a um exemplo de reivindicação, com a concentração de milhares de mulheres, que marcharam nas ruas da cidade, com objectivo de lutar por melhorias das condições de trabalho para baixar a carga horária de trabalho diária que era de 16 horas, seis dias por semana, muitas vezes sem respeito pelos domingos.
A luta pelos direitos femininos haveria de ser transversal. Por exemplo, em Portugal, no decorrer das eleições constituintes, no dia 28 de Maio de 1911, a médica Carolina Beatriz Ângelo, foi a primeira mulher a votar, aproveitando em seu favor um lapso do legislador. A lei em vigor referia que só podiam votar os "cidadãos portugueses com mais de 21 anos, que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família”. Ela, médica, viúva, a sustentar a sua filha, viu o tribunal conceder-lhe o direito de ser considerada chefe de família. Uma luta cuja primeira batalha venceu, mas que conduziu a que fossem tomadas novas medidas para evitar que o seu exemplo pudesse ser repetido.
A lei foi alterada no ano seguinte, com a especificação de que apenas os chefes de família do sexo masculino poderiam votar. O voto feminino foi concedido, embora com limitações, apenas duas décadas mais tarde, no ano de 1931. O voto universal e sem limitações só surge em Portugal nos anos 70.
Mas voltemos à nossa peça em destaque: este tipo de roupa interior era, na sua época muito mais que “a roupa de baixo”. Fazia parte do enxoval de roupas brancas, feitas e bordadas manualmente. Peças para proteger o corpo e esconder algumas partes: a mulher dita de “respeito”, era socialmente limitada por condicionamentos físicos e morais no modo de vestir.
Hoje um jovem que observe a peça exposta, sabendo que se trata de peça de vestuário feminino interior, não necessitaria da datação para a reportar a pelo menos um século atrás. Embora seja toda ela feita com gosto de pormenor, transmite um acanhamento que impede a sensualidade do corpo da mulher, que limita a sua ação e a sua liberdade. Uma peça que se foi alterando na forma e no tamanho ao longo dos anos, dando lugar à liberdade do corpo, da mente e do Eu da mulher. Uma evolução que acompanhou a luta pelos direitos das mulheres.
Não existe uma luta pela alteração e melhoramento da vivência em sociedade, mas várias lutas. Não haverá uma data na qual os direitos básicos de todos estejam, previsivelmente assegurados. Mas podemos todos colaborar no presente para que o futuro seja o de uma sociedade onde impere o respeito pelo outro, sem ter de o acondicionar em “grades invisíveis”.
Museu Municipal de Porto de Mós