Peça do Mês de Abril
área de conteúdos (não partilhada)Denominação: Bivaque de pauliteiro
Datação: 1959
Material: Têxtil
Local de fabrico: Porto de Mós. Usado pelo Sr. Adriano Batista Santos (pai da doadora).
Medidas (cm): Comp.:28; Alt.:9; Larg.:26
Nº inventário: 2588
Doador: Maria Madalena Henriques Batista
Abril tem sido, nos últimos 50 anos, o mês da Liberdade em Portugal. E, neste mês de abril de 2024, não podemos deixar de mencionar as comemorações dos 50 anos da Revolução que transformou o país numa democracia. Ao descontentamento militar juntou-se o cansaço do povo, amordaçado por 48 anos de ditadura. É da coragem dos portugueses, cansados de ditadura, que surge a conquista da liberdade e a construção da democracia. Mas nem só a ditadura pesava na sociedade portuguesa. Os 13 anos de guerras coloniais, onde milhares de jovens perderam a vida ou ficaram para sempre mutilados, também terão sido determinantes para o surgimento da via democrática. Um país mergulhado em 13 anos de guerras coloniais, vê partir os seus “filhos”, maridos, ou noivos, enfim, jovens empurrados para o desconhecido da guerra. Familiares e amigos vivem na incerteza de não os ver regressar ou na tristeza de os saber mortos, numa terra distante.
E é essa vivência quotidiana que evocamos como peça do mês. Para o fazer apresentamos um bivaque [chapéu] de pauliteiro. É que, para quem não sabe, já houve pauliteiros em Porto de Mós. O “Rancho Misto os Pauliteiros de Porto de Mós” foi criado a 9 de abril de 1959. No entanto, esta agremiação haveria de durar apenas dois anos. O seu fim ficou a dever-se à partida de dois portomosenses para a Guerra. Em abril de 1961, José Manuel Luís Beato (membro do grupo do rancho) e Vitor Manuel Alberto António (irmão da Maria Irene António Beato, membro do grupo) foram enviados para a guerra em Angola, de onde voltaram ao fim de mais de dois anos. Essa partida causou o fim do rancho misto, com apenas dois anos de existência [estes dados foram cedidos verbalmente ao Museu Municipal de Porto de Mós no dia 26-03-2024 pelo Sr. Olegário Valentim Luís Beato]. A guerra era também sinónimo do empobrecimento da cultura, causadora do desagregar das atividades socioculturais.
Abril não serve apenas para celebrar a liberdade e a democracia, mas também a forma como permitiu que voltássemos a ser uma sociedade de cultura e criatividade.