7 Maravilhas da Cultura Popular
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Categoria ARTESANATO: Seiras - Juncal: A nossa maravilha artesanal
TEXTO DE ENQUADRAMENTO
O fabrico artesanal de produtos em junco existe no Juncal desde 1948. Sabemos que até dada altura os produtos em junco eram carpetes, passadeiras e esteiras para a praia. Por volta de 1943/1944 vem uma família de Lisboa, a pedido dos produtores locais, à região ensinar a fazer seiras.A seira de junco é um produto totalmente artesanal e único, o mesmo artesão conseguirá fazer duas peças muito parecidas, mas nunca iguais, pois ainda que o quisesse, não é possível, pois há uma dependência da matéria prima, que sendo um produto natural também não há completa uniformidade, assim como do trabalho dos diferentes artesãos que intervêm nas diferentes fases de produção.
A seira evoluiu de um produto utilitário para o mercado local, antes da massificação do plástico, para um produto de luxo para todo o mundo. A seira de hoje pode ser utilitária ou decorativa, sendo que como utilitária é multifacetada: pode ser a seira para ir às compras, mas também pode ser a seira em forma de mochila para levar o portátil ou ser a mala de senhora em concorrência com outros materiais.
A produção de seiras no Juncal além de ter sido e continuar a ser a única fonte de rendimento de várias famílias, teve ainda um papel de complemento de rendimento de muitas outras mais, entre 1948 e até cerca dos anos 70. Muitas raparigas logo que saíam da escola, com 10 ou 12 anos, iam aprender a tecer nos teares dos empresários. À medida que se iam casando, construíam o seu próprio tear, que instalavam num anexo às suas casas, permitindo-lhes mais facilmente conjugarem a atividade do tear com a vida doméstica e também com a agricultura familiar.
Através do estudo realizado ao processo produtivo do setor, verificámos que o processo produtivo das seiras é longo e bastante dispendioso, pelo menos 13 fases, desde a apanha do junco até ao acabamento, tendo a produção das mesmas quase desaparecido desde 1990 até 2010, precisamente por não ser competitiva com os produtos concorrentes da altura, saco de plástico, incomparavelmente mais baixo. Quando se fez a análise de custos do produto, encontrou-se a justificação para a inviabilidade do mesmo nos targets tradicionais, os coautores concluíram que “a sobrevivência destes produtos poderá passar pela sua recriação e reposicionamento no mercado”, (Silva & Sousa, 2012, p.194) e foi de facto o que aconteceu nos anos seguintes até hoje.
Uma nova geração de empresários surgiu, conheciam o processo através dos seus pais/avós, apostam em design e marketing, colocam o produto num target de produtos artesanais de luxo, de moda, criam marcas, conjugado com os fatores externos de globalização e redes sociais, as seiras do concelho viajam por todo o mundo, associadas a um conceito de produto artesanal, amigo do ambiente, único e atual.
Bibliografia:
Junta de Freguesia do Juncal. (2012). Silva,C.M. & Sousa,C, Juncal: 450 anos de Freguesia.(Pág. 171-194), O Fabrico de Seiras no JuncalTEXTO HISTÓRICO
Há uma coincidência engraçada entre o nome da nossa terra e a produção de artigos artesanais em junco, já que Juncal significa etimologicamente “terrenos onde crescem juncos” segundo o dicionário priberam de língua portuguesa. Sabemos ainda que este é o nome original e único desta terra segundo (Gomes, 2005) e conta com 560 anos de freguesia neste lugar.Até aos anos 60 havia um junqueiro à volta de uma fonte no Largo de S. Miguel. Hoje ainda existe a planta em abundância em sítios com água.
A produção de seiras no Juncal existe desde 1948 (Silva e Sousa, 2012) e teve uma importância económica e social muito grande numa altura em que não havia indústria e permitia a muitas mulheres casadas trabalhar em casa em conjugação com a vida doméstica, com o cuidar dos filhos e a agricultura de subsistência. A importância económica da produção de seiras é inversamente proporcional ao aumento da população ativa feminina na indústria. Mulheres com mais educação queriam trabalhos mais remunerados e isso foi possível na indústria.
Até aos anos 80, as seiras eram um produto utilitário: as malas grandes para ir às compras e ao mercado, as malas pequenas para os almoços dos homens que iam aviados para o trabalho. Nesta altura nem sequer se faziam as malas pequeninas.
Na década de 80 os empresários criaram produtos com outra forma, as pastas e muitas raparigas já as usaram como mala de escola. De um produto utilitário para o mercado local, antes da massificação do plástico, para um produto global, foi o que aconteceu na última década, só possível graças à importância histórica que o setor assumiu nos anos 50, 60 e 70 que permitiu que tantas pessoas conhecessem o processo produtivo.
Bibliografia:
Gomes, Saul (2005), Porto de Mós. Colectânea e Documental, Séculos XII a XIX, Porto de Mós, Câmara Municipal de Porto de Mós.
https://dicionario.priberam.org/juncal, consultado em 20/02/2020
Junta de Freguesia do Juncal. (2012). Silva,C.M. & Sousa,C, Juncal: 450 anos de Freguesia.(Pág. 171-194), O Fabrico de Seiras no JuncalVÍDEO:
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Categoria ARTESANATO: Faiança do Juncal
TEXTO DE ENQUADRAMENTO
A localidade do Juncal, do concelho de Porto de Mós, é conhecida entre outras razões pela sua cerâmica, nomeadamente a faiança.Fundada em 1770, numa localidade rica em argilas, a Fábrica do Juncal, que veio a receber o título de Real, atribuído pela rainha D. Maria I, produziu louça utilitária, decorativa e também azulejos.
A decoração a azul ou vinoso adquiriu características únicas que a diferenciaram de todas as outras provenientes de diversas oficinas do resto do país. A chamada “maneira do Juncal”, decoração introduzida pelo segundo administrador da Fábrica, José Luís Fernandes da Fonseca, vindo para o Juncal em 1786, tornou-se uma marca única que a distingue de todas as outras da mesma época e que perdurou até aos nossos dias.
Dizia Rafael Barreiros Calado, descendente dos proprietários da Fábrica, numa conferência no Teatro D. Maria Pia, em Leiria, em 1937: “Então a fábrica do Juncal entra numa fase nova: à maneira clássica e erudita sucedeu a maneira ingénua, simples e francamente popular. Se a primeira fase foi notável pela esmerada perfeição dos seus produtos, a segunda não o foi menos, tantos pela originalidade de suas decorações, como pelo carácter especial e inconfundível. (…) À clássica tarja de Rouen sucede a graciosa “cadeia de pérolas” na ornamentação dos contornos da faiança; as paisagens e outros elementos decorativos do estilo indiano, dão lugar a outras lindas decorações de inspiração puramente local. Aparece então o raminho de manjerico, a grinalda de verdezelha o alecrim, a murta e a madressilva. O raminho fantástico, graciosamente estilizado tão vulgar nas jarrinhas de altar deve ter também aparecido nesta época”
Encerrada a Real Fábrica em 1876, a mesma decoração viria a ser reabilitada a par de outras inovadoras mas inspiradas na primeira. Foi em 1946, por iniciativa de cinco juncalenses que viria a construir-se uma nova unidade fabril, a Olajul, Lda. Tendo laborado durante cerca de sete décadas, mudou várias vezes de administração. Vários aspetos decorativos foram surgindo, nomeadamente inspirados na cerâmica de Alcobaça, mas manteve sempre, a par disso, a decoração típica do Juncal.
Aquela unidade fabril encerrou em 2010.No entanto, por várias vezes e a pretexto de celebrações locais foram produzidas algumas peças como foi o caso da célebre jarra de altar, aquando da comemoração dos 450 anos de freguesia do Juncal.
A especificidade da sua decoração bem como o recurso a pigmentos usados na pintura da cor vinoso obtida a partir de um “seixo” existente nos jazigos de barro da região merecem a sua reabilitação numa altura em que se prepara o restauro da Casa Calado onde se situou a Real Fábrica e onde será interessante estabelecer uma oficina onde se execute aquela decoração única e que tão bem caracteriza a faiança do Juncal.
A faiança da Real Fábrica do Juncal ainda existente é hoje propriedade de colecionadores e museus nacionais e regionais mas este valioso património corre o risco de se perder na memória dos juncalenses.
TEXTO HISTÓRICO
A Fábrica do Juncal foi fundada em 1770, por José Rodrigues da Silva e Sousa, natural dos Milagres (Leiria), descendente de juncalenses já que seu avô e seu pai, artistas que trabalharam em Mafra e dirigiram a construção do Santuário dos Milagres daqui eram naturais.
O Juncal, zona de argilas, por excelência, era um local privilegiado para a criação de uma indústria de cerâmica, contando com boas condições de escoamento dos produtos por se encontrar próximo da Estrada Real que ligava Lisboa ao Porto.
A fábrica foi inicialmente dirigida pelo seu fundador. Com a vinda de Coimbra de José Luís Fernandes da Fonseca, para administrar a Fábrica, foram introduzidas novas influências e técnicas na decoração. À maneira clássica e erudita sucederia a denominada “maneira do Juncal”, mais simples nas formas e na decoração.
A importância que a fábrica adquiriu levou a rainha D. Maria I autorizar o uso das Armas Reais por cima da porta da fábrica, graça que foi concedida em 1784. Dois anos depois, a rainha concedia a José Rodrigues o título de Monteiro - Mor de Vila de Rei.
Em 1811, José Rodrigues voltava a reconstruir tudo o que havia sido destruído nas invasões francesas, fazendo sociedade com José Luís Fernandes da Fonseca, já administrador.
Em 1837, a Fábrica do Juncal continuava a figurar nas estatísticas como a única fábrica de louça branca do distrito e a sua produção era vendida em feiras, aos conventos, palacetes e Casa Real da Nazaré.
A Fábrica foi encerrada no ano de 1876.
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Categoria LENDAS E MITOS: Dom Fuas - A importância de um herói lendário
TEXTO DE ENQUADRAMENTO
D. Fuas Roupinho constitui um importante património popular cujo alcance ultrapassa largamente as fronteiras de Porto de Mós, assumindo uma expressão de interesse nacional.
Esta personagem, cuja existência se encontra associada a um Fernão Gonçalves Chuchirrão, Farroupim de alcunha (Fuas Roupinho, por corruptela), é, de facto, bem conhecida noutros lugares, como a Nazaré, e ocupa um espaço simbólico de destaque nos fundamentos da nacionalidade. Esses fundamentos assentam em dois aspetos: religião e glória militar.
No século XII, os cristãos conquistavam os territórios peninsulares ao Islão. Era uma questão de controlo territorial, mas também de propagar a fé cristã. Seja pela coragem e astúcia militar, seja pela fé que o associa ao milagre de Nossa Senhora da Nazaré, D. Fuas Roupinho está relacionado a estes dois importantes vetores politico-geográficos da época. Cronologicamente, situa-se no reinado de D. Afonso Henriques.
No domínio militar da conquista cristã, D. Fuas passou à história como tendo sido o primeiro almirante da frota portuguesa. São-lhe atribuídos feitos como ataques aos arredores de Sevilha. Em 1179, D. Fuas era alcaide-mor de Coimbra e, na sequência da vitória sobre ofensivas islâmicas contra a praça-forte de Porto de Mós, esta foi-lhe entregue pelo monarca. Terá sido à frente da frota que, em 1184, sucumbiu numa batalha naval, na costa de Ceuta, tendo desaparecido sem rasto o seu corpo.
No domínio da fé, a lenda do Milagre da Nazaré assume um lugar fundamental. De facto, todas as histórias que glorificassem a fé cristã assumiam um valor redobrado em tempo de conquista do território à “moirama”. Em curtas palavras, D. Fuas estaria numa das suas caçadas no lugar onde hoje é o Sítio da Nazaré. Entusiasmado pelo avistamento de um veado, largou a galope atrás da presa, que o atraiu até à escarpa de onde a queda significava morte certa. Rezam as vozes que o veado seria o diabo em forma de animal, apostado em dar fim ao cavaleiro cristão. Apercebendo-se D. Fuas do perigo e já sem capacidade de reagir, exclamou “Senhora, valei-me!”. O desesperado apelo foi ouvido, tendo o cavalo parado sobre as patas traseiras cujas marcas ainda hoje alguns pretendem reconhecer naquele que ficou conhecido como o Bico do Milagre. Independentemente da lenda, o Sítio da Nazaré guarda, no lugar do milagre, a Capela da Memória, pretensamente mandada erguer por D. Fuas. Hoje, a Nazaré tem um dos principais santuários marianos de Portugal.
Por fim, a expressão simbólica de D. Fuas é amplamente atestada naquela que ainda é a obra cimeira da literatura portuguesa, Os Lusíadas, onde, nas estrofes 16 e 17 do Canto VIII, Camões exalta os feitos do nosso herói em Porto de Mós.
Reconquista, fundação de Portugal, dimensão religiosa e importância dada na expressão literária são, pois, as razões pelas quais D. Fuas Roupinho e a sua história merecem um lugar cimeiro entre as maravilhas da cultura popular portuguesa.TEXTO HISTÓRICO
D. Fuas Roupinho assume, na narrativa histórica nacional, um lugar cimeiro de Mito Fundacional. De facto, os episódios associados a esta personagem remetem-nos para o século XII, quando Portugal nasce enquanto estado reconhecido pela autoridade máxima de então do mundo cristão ocidental: o Papa.
A proximidade de D. Fuas Roupinho a D. Afonso Henriques demonstra bem que o Alcaide de Porto de Mós nos surge, como outros heróis fundadores, como símbolo de bravura ímpar e de fé inabalável, pilares fundamentais do novo reino cristão. Aliás, o próprio mito da imagem da Nazaré enreda este personagem numa história e num local onde se estabelece a relação com tempos paleocristão, ainda hoje testemunhados pelo templo visigótico de S. Gião.
O mito assume uma força que exerceu um efeito coletivo aglutinador e identitário. Talvez por isso D. Fuas nos apareça citado, pela primeira vez (tanto quanto sabemos), no século XIV, uma época de profunda crise que culmina, em Portugal, na Batalha de Aljubarrota, em Porto de Mós. Todos os momentos históricos de crise identitária necessitam dos seus heróis elevados a semideuses ou visionários. Entre outros, o Dicionário de História de Portugal faz-lhe referência. Relatos do cronista árabe Ibn Khaldum (1332-1406) parecem corroborar a batalha na qual sucumbiu. D. Fuas tende a ter uma existência possível, mas com feitos improváveis, sendo um desses heróis que, pela voz de cronistas e poetas, se tornou num símbolo aglutinador para a identidade portuguesa.SELO: Download da imagem
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Categoria LENDAS E MITOS: A Lenda da Bilha de São Jorge
TEXTO DE ENQUADRAMENTO
No dia da Batalha de Aljubarrota, a Batalha Real, a 14 de Agosto de 1385, encontravam-se os exércitos frente a frente, sob um sol abrasador. Temendo mais a sede que o exército inimigo, Nuno Álvares Pereira incumbiu Antão Vasques de procurar água, uma tarefa difícil dada a secura dos regatos.Após algum tempo, já desesperado, Antão Vasques desceu do cavalo, ajoelhou-se na terra poeirenta e pediu a S. Jorge que o ajudasse. No mesmo instante, surgiu uma camponesa com uma bilha de água. Quanto mais dela se bebia mais de água se enchia. Uma água que saciava a sede e renovava as forças e o espírito.
Os castelhanos atacaram, certos de encontrar os soldados enfraquecidos pela espera e pela sede, mas os portugueses aguentaram firmes e, para grande surpresa dos castelhanos, ganharam a batalha que garantiu a afirmação da independência nacional, travada nos campos de São Jorge, freguesia de Calvaria de Cima, do concelho de Porto de Mós. Simbolicamente, a bilha encontra-se atualmente num nicho, no exterior da Capela de São Jorge, erigida no século XIV, no local onde, no dia da batalha, D. Nuno havia depositado o seu estandarte.
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Categoria FESTAS e FEIRAS: Festa de São Pedro de Porto de Mós
TEXTO DE ENQUADRAMENTO
Os festejos anuais de São Pedro remontam aos inícios do século XX, respondendo à vontade e à crença em homenagear o orago da vila, São Pedro.Desde 1983, a organização do evento é da responsabilidade do Fundo Social dos Trabalhadores da Câmara Municipal de Porto de Mós, em parceria com a Câmara Municipal. Este ano, a festividade acontecerá entre os dias 25 de Junho e 3 de Julho e promete, como é já habitual, trazer milhares de pessoas à sede do concelho de Porto de Mós.
Ao longo dos anos, as Festas de São Pedro cresceram, mudaram de espaço, fidelizaram público. Hoje é o acontecimento maior do concelho, uma verdadeira mostra do que cá se faz e do que se quer vir a fazer. Uma semana longa, repleta de atividades, marcada pela animação musical diária, pela mostra comercial, industrial e de artesanato, pela exposição auto, pelos espetáculos equestres e pelas vacadas, pela cozinha de demonstração, ateliês diversos, pelo festival de folclore, pelas provas e atividades desportivas (ciclismos, downhill, futebol) e pelos encontros a propósito das bicicletas, das motorizadas ou dos aviões, com o encontro de Aeromodelismo.
As procuradas Tasquinhas garantem a excelência da gastronomia e propiciam a confraternização que, para muitos, acontece apenas nestas datas. No convívio que se faz à mesa, já não pode faltar o avantajado Coscorão que na companhia do Café d’Avó se assume como obrigatória tradição.
Ponto alto dos festejos é, também, a realização do desfile das Marchas Populares de São Pedro, onde o brilho, a cor, e o bairrismo se afirmam de forma criativa e superam, todos os anos, as expectativas.
A raiz religiosa transparece no acontecimento de maior solenidade. A Procissão de São Pedro sai à rua e percorre a vila e é venerada pelas colchas penduradas às janelas e varandas. Ganha corpo e impressiona pela fé dos crentes que acompanham São Pedro, levado em ombros, e pelos membros das confrarias do concelho, grupos corais, figurantes e demais instituições que fazem questão de marcar presença neste evento cerimonioso.
Com um programa diário de 9 dias e visitas de cerca de 120 mil pessoas, as Festas de S. Pedro têm crescido, ano após ano, em qualidade, diversidade de oferta, dimensão e número de visitantes sendo, neste momento, uma referência que extravasa os limites da região.
TEXTO HISTÓRICOAs festas em honra do orago São Pedro remontam aos inícios do século XX, de carácter iminentemente religioso, com a realização de missa cantada, sermão e procissão pelas ruas da vila e venda de fogaças. À festa da igreja associa-se a tradicional Feira Anual de São Pedro, “a mais importante da região” e que congregava, em 1951, “milhares de pessoas vindas de toda a parte para fazerem as suas transações e passarem um dia alegremente”.
A tradição inerente às comemorações dos Festejos de São Pedro tem tal significado que no ano de 1954 é pedido em reunião de Câmara “a criação do feriado municipal por ocasião das tradicionais festas e feira anual (...) que tem lugar todos os anos em vinte e nove de Junho”. Em 1959, volta a ser reiterado o mesmo pedido, apoiado na certeza do cumprimento de um dever para com o povo do concelho. Contudo, esta vontade só se vê realizada no ano de 1977.
Ao longo dos anos, são várias as comissões representativas de diferentes instituições que assumem a organização destes festejos anuais, em concreto, os Bombeiros Voluntários, a extinta Associação Primeiro de Maio, a Associação Desportiva Portomosense e, a partir de 1983, o Fundo Social dos Trabalhadores da Câmara Municipal de Porto de Mós, organizador da iniciativa, com o apoio da Câmara Municipal, até aos dias de hoje.
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Categoria FESTAS e FEIRAS: Via Sacra
TEXTO DE ENQUADRAMENTO
A Via Sacra é o momento alto das Celebrações da Semana Santa de Porto de Mós, comemorando-se há mais de dez anos. Com início na Igreja de São João, eram depois, percorridas as 14 estações que existem na zona histórica da vila de Porto de Mós, culminando a cerimónia na Igreja de São Pedro.O número de participantes e a evolução do programa das Celebrações da Semana Santa levaram a que o momento da Via Sacra se traduzisse numa vivência inédita e francamente real do percurso que Cristo percorreu entre o Pretório de Pôncio Pilatos até ao Monte Calvário.
A recriação desta passagem bíblica é, agora, protagonizada por cerca de 100 participantes, entre voluntários, grupos de teatro locais, grupos da catequese ou de escuteiros, sob coordenação de uma companhia de teatro.
A Via Sacra tem início na Igreja de São Pedro, onde também começa a recriação bíblica, saindo, depois à rua para percorrer a vila, em direção ao Castelo de Porto de Mós.
Emoção, sofrimento e compaixão são sensações constantes para os visitantes e fiéis que acompanham este percurso até ao Monte do Calvário, concretizado no monte do Castelo, onde decorre o momento intenso da crucificação de Cristo.
A Via Sacra termina no interior do Castelo de Porto de Mós, com a recriação da sepultura de Cristo e a adoração da cruz.
A Via Sacra de Porto de Mós é, atualmente, o ponto alto das Celebrações da Semana Santa, atraindo milhares pela crueza e intensidade com que concretiza o momento da morte de Cristo, sendo, por isso, não apenas um acontecimento religioso, mas também uma forma de afirmação da nossa herança cultural.
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Categoria MÚSICAS E DANÇA: Concertinas da Barrenta
TEXTO DE ENQUADRAMENTO
O Centro Cultural da Barrenta, com sede em plena Serra de Aire e Candeeiros, integra a União de Freguesias de Alvados e Alcaria, Município de Porto de Mós, e atualmente são 38 pessoas que vivem neste lugar.A aldeia da Barrenta é conhecida pela escola/grupo de concertinas, que promove um encontro anual para tocadores de concertina. Este evento é porventura o único e o maior no país e no mundo, com estas características. A origem do Encontro e consequentemente a Escola, prendeu-se com o objetivo de pegar num instrumento que estava quase em extinção, conseguindo que fosse despertado de tal forma, que desde há alguns anos a esta parte já não há programa de televisão nem grupo musical que não tenha a concertina como parte integrante. Com este gesto, a nossa coletividade foi pioneira na implementação de uma cultura ligada a concertina na zona centro sul do país. Este projeto fez com que em muitos pontos do país houvesse pessoas a aprender a tocar a concertina, a aprofundar conhecimento e a desenvolver muito as suas técnicas e capacidades.
A coletividade tem atualmente 90 alunos, que semanalmente se deslocam até à Barrenta, para de forma totalmente gratuita, aprenderem a tocar concertina, mas também conviverem, partilharem saberes e alegrias, e acima de tudo desfrutarem dum momento feliz, o que dá a estes ensaios uma conotação terapêutica a quem neles participa. Os alunos têm idades muito variadas, e origens muito diferentes, bem como ocupações diárias muito vastas, mas a mística ali vivida, permite viver um sentimento muito especial.
A evolução em 18 anos é notória. O primeiro encontro contou com 40 tocadores, em 2019 foram cerca de 550 tocadores e mais de 15 mil visitantes. Esta evolução vai se refletindo no encontro em si, mas também no aumento da qualidade de vida da população, e sobretudo um incremento da música tradicional portuguesa e cultura associada.
A grande aposta na gastronomia local, a mostra de produtos locais, o apoio e visibilidade de indústrias regionais, foram sem dúvida um impulso para que este encontro deixasse de ser um evento da aldeia, para passar a ser um evento da região.
A troca de saberes, e o reencontro entre amigos, é muito característico, porque são audíveis por toda a aldeia, os sons da concertina. Cada tocador, cada grupo, toca livremente pelos cantos da Barrenta, dando o tom a uma cultura, que vai muito além da música, e que encontra corpo na partilha que ali acontece.
Quem visita a Barrenta, nos dias de ensaio, em dias de festa, ou num dia comum, vem dos mais variados pontos de Portugal, e pela moldura pitoresca e única, são cada vez mais os cidadãos estrangeiros que por ali vão passando. As comunidades da diáspora seguem as festividades e as ações quotidianas atentamente através das redes sociais.
Ano após ano, nas atuações, participações em programas de televisão, publicações ou até mesmo em pequenos contactos, O Grupo de Concertinas da Barrenta vai levando o nome da aldeia, e em consequência, da região mais além.
Por exemplo, em agosto e setembro de 2019, a Barrenta foi notícia cerca de 100 vezes - 43 na internet, 30 em jornais, 17 na rádio, 10 na televisão - nesse mesmo tempo foram cerca de 250 mil pessoas as que passaram pela página oficial do Grupo de Concertinas da Barrenta no Facebook, para seguir atentamente os preparativos para o 18º Encontro Nacional de Tocadores de Concertina.
TEXTO HISTÓRICOO Centro Cultural da Barrenta, com sede em plena Serra de Aire e Candeeiros, integra a União de Freguesias de Alvados e Alcaria, e atualmente são 38 pessoas que vivem neste lugar.
A aldeia da Barrenta é conhecida pela escola/grupo de concertinas, que promove um encontro anual para tocadores de concertina. Este evento é porventura o único e o maior no país e no mundo, com estas características. A origem do Encontro e consequentemente a Escola, prendeu-se com o objetivo de pegar num instrumento que estava quase em extinção, conseguindo que fosse despertado de tal forma, que desde há alguns anos a esta parte já não há programa de televisão nem grupo musical que não tenha a concertina como parte integrante. Com este gesto, a nossa coletividade foi pioneira na implementação de uma cultura ligada a concertina na zona centro sul do país. Este projeto fez com que em muitos pontos do país houvesse pessoas a aprender a tocar a concertina, a aprofundar conhecimento e a desenvolver muito as suas técnicas e capacidades.
A coletividade tem atualmente 90 alunos, que semanalmente se deslocam até à Barrenta, para de forma totalmente gratuita, aprenderem a tocar concertina, mas também conviverem, partilharem saberes e alegrias, e acima de tudo desfrutarem dum momento feliz, o que dá a estes ensaios uma conotação terapêutica a quem neles participa. Os alunos têm idades muito variadas, e origens muito diferentes, bem como ocupações diárias muito vastas, mas a mística ali vivida, permite viver um sentimento muito especial.
A evolução em 18 anos é notória. O primeiro encontro contou com 40 tocadores, em 2019 foram cerca de 550 tocadores e mais de 15 mil visitantes.
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Categoria MÚSICAS E DANÇA: As Danças de Porto de Mós
TEXTO DE ENQUADRAMENTO
As Danças que são de Porto de Mós também o são de muitos outros lugares e contextos. Estas danças surgem deste mesmo território mas de outras épocas da história. Teve influencias vindas das invasões de romanos e franceses, mas também bebeu de modas e correntes vindas de várias partes da europa. São danças trazidas por pessoas que vieram trabalhar para a região ou por quem era de cá e que se encantou com danças de outro e as fez perdurar. Com influência do estado novo e com a folclorização, as danças de Porto de Mós sobem ao palco e começam a viver dentro dos ranchos folclóricos que tiveram um papel fundamental na sua salvaguarda.
As danças de Porto de Mós são uma “maravilha” porque são reconhecidas e acarinhadas dentro da comunidade onde estão inserida. É necessário reunir esforços para dar uma oportunidade a estas danças para que muitos outros possam usufruir deste património.
Entre muitos exemplos de danças mais comuns em todo o país como os viras e enleios, que também tem grande presença e particularidade nos grupos folclóricos de Porto de Mós, destacam-se algumas danças mais carismáticas como por exemplo: o Passe Catre, as Valsas ou Modas de Dois Passos, o Verde-gaio (que uns grupos é da Ti Albertina, noutros é Amarelo ou até pode ser das Pedreiras), Vinhedos, o Fado, o Reinadio, o Pirolito, a Choutiça e o Loureiro.
De todas estas destaca-se um exemplo de um Loureiro recolhido por um dos ranchos locais, que se trata de uma dança com 3 partes:uma valsa de pares; cada um dos pares dá uma volta à roda em passo valseado; bate-se o vira para fora e dentro da roda, com o passo de vira ao jeito particular de Porto de Mós. Num pequeno de uma análise feita para o projeto piloto – Salvaguarda das danças de Porto de Mós.
Loureiro, verde loureiro
Ai tens o teu pé tão baixinho.
À Sombra da tua Rama
Ai tenho dado Muito BeijinhoNa letra desta dança, ouve-se a voz de alguém que tem usufruído da sombra desta planta para encontros amorosos e que a ela se dirige diretamente, por meio de um diálogo que assume num tom confidente e queixoso. Os encontros amorosos parecem estes ligados à coreografia numa valsa lenta a pares agarrados frente a frente. No final da valsa o par faz uma pausa que parece dar profundidade a essa cumplicidade e remete para uma certa intimidade. A música é cantada em tom lento, profundo, grave que combina com o tom confidente e queixoso encontrado na letra da dança.
A comunidade local reconhece, valoriza e vive as suas danças onde se têm desenvolvido Bailes, oficinas e aulas regulares de danças tradicionais e populares portuguesas, especificas de Porto de Mós - privilegiam o contacto humano e o foco no envolvimento real das pessoas como essenciais para o crescimento e desenvolvimento saudável; O uso ativo das danças tradicionais e populares contrariando as últimas décadas de transmissão por assistência; Um exemplo disso foi o surgimento do grupo “AIRE” para recriar as músicas tradicionais com uma sonoridade mais convidativa a novos públicos;
TEXTO HISTÓRICO
As danças tradicionais e populares de Porto de Mós são um bem patrimonial único e de relevo que valoriza o papel da transição informal da cultura popular de geração em geração e que enaltece a expressão popular da comunidade.A dança expressa o seu próprio significado e valor perante todos aqueles que a partilham e contemplam dentro do contexto sociocultural. Por isso expressam o retrato da história e da cultura local estabelecendo uma forte relação entre a memória e a vida no tempo atual. São recursos vivos, que originam coreografias e detalhes técnicos muito particulares dentro da comunidade local.
As danças são o reflexo de todo o envolvimento onde surgiram e se mantiveram. Refletem os padrões de vida, os padrões psicológicos da cultura local, o sistema de crenças e da organização social. São uma prática cultural através da qual os atores sociais atualizam e concretizam de forma criativa as suas visões do mundo e da vida.
As danças que hoje conhecemos não têm nem podem ter, nem é desejável que tenham, um caracter purista sobre a sua origem. O movimento é algo que termina e desvanece imediatamente após ter sido executado. As danças de Porto de Mós são o que ficou depois de tudo o que passou. São património imaterial que se guarda no corpo e na memória visual de quem a dança. É o que tenta representar, mas sobretudo é o que bebeu da transmissão oral e de observação do movimento e de todas as influências que sofreu das mais diversificadas formas.
VÍDEO:
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Categoria RITUAIS E COSTUMES: Cantar as Janeiras de Mira de Aire
TEXTO DE ENQUADRAMENTO
As Janeiras são uma tradição de Portugal e a tradição, em Mira de Aire, ainda é o que era, e supera expectativas.“Vamos cantar as Janeiras” é uma iniciativa da Comissão de Festas em Honra de Nossa Senhora do Amparo de Mira de Aire, vulgarmente designada como Quarentões, pois os seus membros completam 40 anos no ano em que realizam a festa.
Cantar as Janeiras é das festas mais agregadoras que se realizam em Mira de Aire, é uma tradição que move todos os mirenses, amigos, visitantes e todos os que experienciando o evento uma vez, não deixam de cá voltar.
Teve o seu início há mais de 25 anos e gradualmente tem vindo a mobilizar cada vez mais pessoas.
Os Quarentões, organizadores do evento, trajam a rigor, normalmente com capa ou outro elemento identificativo do grupo e percorrem o itinerário sempre com lanternas a petróleo para “iluminar” o caminho.
Para que todos possam cantar e bebericar mantendo as gargantas amaciadas, os quarentões desse ano, que são os organizadores, disponibilizam Kits compostos por brochura com as letras das canções, pequena lanterna (para as zonas mais escuras) e caneca que poderá ser cheia ao longo de toda a noite com deliciosa ginga. Também oferecem filhoses, café “d’avó” e pão com chouriço que podemos encontrar numa carrinha de apoio que vai acompanhando o grupo.
Cerca de doze músicos com os seus instrumentos, que se acomodam e deslocam numa carrinha, dão o tom e a melodia às canções que vão sendo cantadas. Desde o “Hino de Mira de Aire”, cantado com orgulho, ao “Tiro-Liro Mirense”, desgarrada sempre muito disputada entre homens e mulheres, todas são cantadas com convicção e muita alegria.
As paragens são feitas em 13 zonas da vila, devidamente definidas e identificadas no cartaz e na brochura que faz parte do Kit disponibilizado, perfazendo um total de 5 km. Quando o grupo chega a uma zona, são lançados foguetes, sendo uma forma de a população saber “onde estão as janeiras”. Nessas zonas de paragem, o empenho e a dedicação dos mirenses que aí residem, manifesta-se na colocação de mesas fartas, repletas de iguarias como morcela, chouriço assado, broa, salgadinhos, bifanas, filhoses e arroz doce, que repõem energias e aquecem o corpo e alma!
Para as comissões de quarentões anteriores, é também um dia e noite de alegria. Todos se juntam com o traje ou capa que também eles usaram no ano das “suas janeiras”. É uma festa que conhecem bem e à qual não querem faltar!
Pelas 17h, o primeiro sítio “obrigatório” é o Lar de Idosos-Casa Abrigo de São José. É um momento de grande contentamento e emoção para todos os residentes que cantam, orgulhosamente, as músicas, nomeadamente o Hino de Mira de Aire.
Às 19h, à saída da Missa, é o início oficial desta festa no Adro da Igreja e só termina de madrugada no mesmo local.
Todos, sem exceção, gostam de cantar as janeiras, de cantar a sua terra, as suas gentes, os seus locais e as suas tradições. A festa é de todos e para todos...e nela se pode sentir a paixão e o calor da alma mirense!
TEXTO HISTÓRICOEnquadrar as Janeiras de Mira de Aire historicamente é uma tarefa verdadeiramente difícil…
Com a criação das comissões de Festas em Honra de Nossa Senhora do Amparo, vulgarmente conhecidos como Quarentões, o evento “Vamos Cantar as Janeiras” no registo que atualmente conhecemos, passou desde o ano de 1994 a constar do plano de atividades dessa comissão, sendo que este formato atual é algo completamente diferente e mais agregador do que era vivido até então.
Por mais que se tente não é possível perceber e saber quando se iniciou o hábito de cantar as janeiras em Mira de Aire, apenas se sabe que é um ritual e costume que vem dos antepassados e tempos áureos da Vila de Mira de Aire mas não é possível considerar-se uma data oficial e inicial. Sabe-se que em tempos remotos e de outrora as Janeiras eram inclusivamente utilizadas, por exemplo, como reconhecimento e agradecimento a um médico que residia na vila e que “acudia” à população em caso de necessidade. A população reunia-se à sua porta e “cantavam-lhe” as janeiras, com algumas oferendas até, como forma de agradecimento pelo seu trabalho e disponibilidade à população…
Hoje em dia é precisamente o oposto, são os “bairros” da vila que se unem e dão o seu melhor na receção às Janeiras e para cantar as Janeiras…
Desta forma já há 26 anos que assim é…
Uma tradição de todos e para todos, que tem vindo a aumentar significativamente a cada ano que passa!
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Categoria RITUAIS E COSTUMES: Cantar às Almas Santas
TEXTO DE ENQUADRAMENTO
É em tempo de Quaresma que, após o anoitecer, os rapazes locais se reúnem para levar de porta em porta o secular e emblemático “Canto às Almas Santas”, canto este muito valorizado pelo povo cristão de tradição católica.Este cantar, que se faz de porta em porta pela noite dentro, tem como principal objectivo o de pedir ao Divino pelas Almas Santas do Purgatório, no momento em que é feito e, também, com a angariação de fundos para celebração de missas pelas mesmas Almas.
Trata-se de um despertar de consciências pela condição de pecadores, em ordem à salvação de todos.
Debaixo de mantas tradicionais tecidas em tear com lã de ovelha, agasalhavam-se todo os que oferecem a voz a esta missão. Por vezes cobrem as cabeças com barretes de lã que descobrem no momento de se benzer.
Os rapazes organizam-se e pedem ao Sr. Padre da Paróquia para que a população seja informada do início do cantar. Ele realiza-se durante o período da quaresma e é feito de porta a porta.
O referido grupo, divide-se em dois, pois o cantar trata-se de uma oração em jeito de resposta entre o grupo 1 e o grupo 2.
Se em tempos que já lá vão a tradição era percorrer três vezes todas as casas da paróquia, actualmente e com o aumento da população local, apenas se faz uma vez ou até duas em cada casa.
Neste cantar, a família, mesmo estando em casa, escuta a oração no interior da sua residência e apenas no momento em que rezam o Pai Nosso e a Avé Maria é que abrem a porta para dar a sua esmola ou noutros casos apenas no final é que abrem e convidam os rapazes a beber um pouco para aquecerem a garganta, pois no coração da serra dos Candeeiros, os invernos são rigorosos e as noites tornam-se frias e gélidas.
Factualmente, o Arrimal é das poucas localidades onde esta tradição ainda se mantém viva e ativa, com continuidade, sem interrupções, verificando-se apenas pequenas alterações. Os cereais cultivados pelos populares eram outrora a oferta mais comum, no entanto, nos dias de hoje estes são substituídos por dinheiro, que se destina a missas em alma dos fiéis defuntos e às almas do purgatório.
Entende-se que é importante reviver sempre esta tradição, em tempo quaresmal, de modo a salvaguardar um costume do povo arrimalano, para que este não se perca ao longo do tempo e seja legado às gerações vindouras.
“Cântico às Almas Santas”
Acordais que estais dormindo, nesse sono tão profundo.
Dai esmola se puderes, às almas do outro mundo.Ajoelhemos em terra, já não somos os primeiros.
Nossa companhia venha, Jesus Cristo verdadeiro.Virgem mãe da piedade, à devoção nos obriga.
Rezemos às Almas Santas, rezemos com alegria.Atormenta ao devedor, da contínua ao padecente.
Assim são as Almas Santas, no Purgatório ardente.Ó homens, mulheres, meninos, deste povo auditório.
Dai esmola se puderes, às almas do Purgatório.Dai esmola se puderes, se com devoção a dais.
Já lá tendes vossas mães, vossos filhos e vossos pais.Esses bens que possuirdes, reparti-os em vossa vida.
Lá os achareis na glória, quando fores à partida.Como Lázaro vos pede, que não lhes dês as fazendas.
Que lhe dês as migalhinhas, que crescem nas vossas mesas.As esmolas que nos dais, não cuidais que as comemos.
São para dizer de missas, à devoção que trazemos.Ó almas do Purgatório, é bem, bem que nos lembremos.
Nós havemos de morrer, sabe Deus p’ra onde iremos.Ó almas do Purgatório, pede a Deus Nosso Senhor.
Que esta nossa oração, que seja em Vosso louvor.Que seja em Vosso louvor, também da Virgem Maria.
Pelas almas, Pai Nosso, por elas, Ave Maria.
Pai Nosso…
Ave Maria…
Pelas pobrezinhas almas, todos havemos rezar.
Que Deus as tirai das penas, e as leve p’ra bom lugar.Rezemos que todos rezam, este bendito louvado
Também os anjinhos rezam, na capela do sacrário.Ó que bela perfeição, deu o ouro tão desejado.
Onde esteve Jesus Cristo, nove meses encerrado.À porta das Almas Santas, bate Deus a toda a hora.
Almas Santas lhe perguntam: Ó meu Deus que quereis agora?
Quero que venhais comigo, vem ver o Reino da Glória.Vós que quereis entrar no Céu, com as vossas continhas brancas.
Dai esmola, se puderes, às benditas Almas Santas.Vós que quereis dar a esmola, querei-la dar com devoção.
(Vós que destes a esmola, deste-la com devoção).
Na Terra terá o prémio, lá no Céu a salvação.Virgem mãe, Nossa Senhora, nos aceite estas passadas.
Nós por aqui andamos dando, para remédio das almas.Vós que quereis dar a esmola (Vós que destes a esmola), Nossa Senhora deu tanto.
Em louvor das três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo.TEXTO HISTÓRICO
Um dos significados mais típicos de religião, que assenta na própria origem etimológica da palavra, é re-ligare, religar, unir pessoas em torno de uma fé, o que une Deus ou os deuses ou qualquer outra entidade sobrenatural aos homens.Os que mais intensamente viveram na primeira pessoa a religiosidade popular foram as classes excluídas “do ter”, “do poder” e “do saber”, isto é, as populações mais pobres, os que viviam nomeadamente nas zonas serranas e trabalhavam nos campos. Pessoas simples. Os gestos rituais, os atos de culto, as peregrinações, as festas, os relatos e as celebrações, cultos e ritos de carácter sentimental celebrados por ocasião de acontecimentos biológicos da existência, como o nascimento, a fecundidade e por fim a morte, são realidades que estas classes populares consideram ainda hoje pela tradição, como próprias e distintas das que caracterizam a religiosidade oficial (na sua maioria Católica).
A religiosidade popular é a sobrevivência de algumas crenças e práticas anteriores aos processos de cristianização que foram sobrevivendo e chegaram até nós. O desenvolvimento dos estudos etnográficos, desde o século XIX, têm divulgado inúmeras práticas mais ou menos limitadas ou difundidas, que são resquícios de mentalidades e vivências pessoais ou coletivas, anteriores à evangelização. Embora tenham sido cristianizadas com alguma profundidade elas chegaram até nós hoje.
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Categoria PROCISSÕES E ROMARIAS: Procissão do Senhor dos Passos
TEXTO DE ENQUADRAMENTOEsta cerimónia é única em todo o nosso país não tanto pelo seu desenrolar quaresmal mas pela envolvência humana e territorial. Tem grande participação de povo vindo de todas as freguesias do Concelho de Porto de Mós e é realizada numa paisagem soberba.
É realizada no 4º domingo da quaresma começando no dia antes com missa e solene procissão desde a Igreja de São Pedro até a Igreja de São João. Nesta procissão é levada a ombros a imagem de Nª Senhora da Agonia que é iluminada no seu caminho por 100 tochas que jovens e crianças da catequese levam em suas mãos para iluminar todo o caminho trilhado ao som de instrumentos metálicos e pesaroso ritmo da filarmónica Portomosense.
No dia seguinte, Domingo, a Igreja de São Pedro cheia, o pregador convidado inicia o seu sermão do Pretório. Depois, da grande meditação sobre o misterioso desígnio de Deus ao fazer morrer o Seu Filho, inicia-se a procissão com bandeiras, estandartes e o grande andor do Senhor dos Passos carregado por 8 homens. A fechar a procissão segue, debaixo do Pálio, o Santo Lenho, relíquia de inestimável valor. Pelo caminho, em algumas estações da via-sacra, com altar ornamentado a rigor, pára-se e reza-se o Pai-Nosso. Canta-se um cântico a condizer acompanhado pela filarmónica. Na praça da República, a mais bela da vila em que o castelo de D. Fuas espreita da sua altivez, as crianças vestidas de anjinhos tem direito a um lugar sentado para se aguentarem no longo e emotivo Sermão do Encontro. A Imagem do Senhor dos Passos encontra, frente a frente, a imagem de Nª Senhora da Agonia, escondida até ao sinal dado, numa das travessas próximas. Momento de grande dor e consternação que por vezes dá lugar a gemidos e lágrimas. O pregador, de olhos fixos ora numa ora noutra imagem, prega as dores tanto da Mãe que vê um filho morrer como do Filho que vê a Mãe sofrer! Retoma-se a procissão com os dois andores, subindo a dolorosa colina em direção ao Castelo que a todos faz tremer só de pensar caso houvesse algum tremor de terra todos ficariam esmagados pelas suas pedras. Chegados à Igreja de São João, o pregador volta ao púlpito para o último sermão. Aí lembra o momento em que Jesus morreu na Cruz e o véu do templo rasgou-se ao meio. Abrem-se os grandes panos pretos que tapam o altar-mor da igreja e vê-se numa longa escada todas as crianças vestidas de anjos à espera de receber o Senhor no mais Alto dos Céus. Depois do sermão, o andor do Bom Jesus é tapado com panos pretos e as crianças da catequese acendem os seus archotes para iluminar a escuridão da noite. Também a rua é iluminada com grandes fogueiras para indicar o caminho de regresso. A sirene dos bombeiros chora a morte do Senhor que a todos faz arrepiar. Chegados à Igreja de São Pedro dá-se por termina a procissão com o cântico por todos rezado:
Adeus ó Virgem Maria, Levo o Teu olhar no peito, Levo a tristeza nostalgia, Do teu sorriso perfeito; Adeus ó mãe, Adeus Maria, Só lá no Céu, Eu Vos verei um dia.
TEXTO HISTÓRICO
Jerónimo de Castro e Melo veio habitar em Porto de Mós, num ano tão longínquo quanto desconhecido. Ele, fidalgo, saiu da corte e de Lisboa trazendo consigo uma imagem do Bom Jesus que depressa substituiu a imagem de Santo André que à época se venerava na capela do Rossio. No ano de 1673, vieram para a vila os frades Agostinhos Descalços. Estes instalaram-se, precisamente, na capela do Rossio que lhes foi cedida pela Misericórdia Local. Foi-lhes exigido o compromisso de continuarem a fazer a procissão do Senhor dos Passos usado a imagem do Bom Jesus pois grande era a devoção do povo. A participação era grande dos irmãos da Santa Casa da Misericórdia e de todas gentes das confrarias, dos concelhos e freguesias vizinhas estendendo-se por três dias seguidos. Esta celebração era o momento auge de toda a vivência quaresmal, tempo litúrgico de grandes jejuns e penitências que convidava os cristãos a meditarem nos sofrimentos e morte de Jesus. Conforme o Livro, “O Bom Jesus de Porto de Mós”, Convento dos Agostinhos Descalços dos autores Kevin Carreira Soares e de Beatriz Rodrigues Cabral, (vide pag. 106) lia-se no jornal regional “O Leiriense”: “No Domingo, 25 do corrente, teve lugar em Porto de Moz a solene procissão dos Passos. Ainda que chuvoso e dezabrido o dia, ondas de povo cruzavam as ruas da vila; era o sentimento religioso, era o impulso de uma devoção cordeal, que conduzia ao santo exercício este povo. (28/02/1855) E assim se tem realizado esta procissão até ao presente.
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Categoria PROCISSÕES E ROMARIAS: Domingo de Ramos
TEXTO DE ENQUADRAMENTO
O Domingo de Ramos é o acontecimento que marca o início das Celebrações da Semana Santa de Porto de Mós e realiza-se há 12 anos, ainda que, à data, consistisse, apenas, na realização de uma procissão, com início na Igreja de São João e término na Igreja de São Pedro, onde era, então, celebrada a eucaristia. O momento contava com a participação das cerca de 300 crianças da catequese, que eram convidadas a trazer flores e verduras, apanhadas no campo, e lançadas ao longo do percurso da procissão.
Foi a partir daqui que surgiu a ideia de criar o Tapete de Flores que hoje em dia embeleza a vila, neste dia, concretizando-se em 250 metros de padrões coloridos, preenchidos pelas mais diversas flores e verduras.
O Tapete de Flores é construído no dia anterior, por grupos de pessoas, organizados e espontâneos, e é o palco principal da reconstituição bíblica referente à entrada de Cristo em Jerusalém.
Jesus Cristo é, assim, representado pela figura do pároco da freguesia, que montado num burro e trajado à época, recria esta passagem bíblica, acompanhado pelos 12 apóstolos de Cristo e pelas crianças e jovens da catequese que, trajados de branco, o acompanham ao longo de toda a procissão e eucaristia, que hoje decorre no Largo do Rossio, junto à Igreja de São Pedro, devido ao elevado número de visitantes.
Para além da recriação bíblica e de representar o início da Semana Santa, a celebração do Domingo de Ramos reveste-se de uma série de momentos significativos com um forte cariz religioso e cultural.
Os visitantes fazem-se acompanhar, neste dia, de um ramo de oliveira, que é benzido durante a celebração e depois guardado durante todo o ano, como símbolo de fé e de proteção.
Também os jovens veem, neste celebração, festejado o caminho que trilharam, até agora, no seu percurso cristão, fazendo-se acompanhar de um cajado de caminheiro que, ano após ano, é adornado pela fita de cor, que representa cada ano desta caminhada. Um momento solene e simbólico que torna o Domingo de Ramos ainda mais marcante para os seus participantes.
O celebração do Domingo de Ramos, é por este motivo, um dos momentos mais altos das Celebrações da Semana Santa de Porto de Mós, sendo um acontecimento com forte cariz religioso e cultural, celebrado de uma forma singular e sentida, reunindo cada vez um maior número de visitantes, que chegam a Porto de Mós, não apenas para celebrar a sua fé, mas também para assistir a este momento que é já tradição.
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Categoria ARTEFACTOS: Muros de Pedra Seca do Concelho de Porto de Mós
TEXTO DE ENQUADRAMENTO
Os muros de pedra seca do concelho de Porto de Mós são mais do que uma obra humana, revelam, de forma exemplar, a capacidade dos serranos na construção duma paisagem harmoniosa e rica em biodiversidade. Antes de domesticarem a serra agreste as gentes tiveram primeiro de aprender a viver com a pedra. Como se arruma uma pedra ao alto ou de lado? A terra de cultivo era escassa ou inexistente e semeada de pedregulhos. Em todo lado sobressaia a ossada calcária. Foi preciso, a poder de sangue, dos homens e dos animais domésticos, libertar a terra removendo as lajes em gerações sucessivas que sabiam, como muitos sabem ainda, por onde parte a rocha quando sobre ela caiem os olhos experimentados dos serranos. Qual a parte de cima ou debaixo da laje? E aos poucos, numa altura em que o tempo não se media com um custo por hora, mas pela capacidade de produzir trabalho que perdurasse muito para além da vida do artesão, foi nascendo a serra como a conhecemos hoje. Não perdeu o seu carater bravio: a intervenção humana deu-lhe um cunho particular onde é difícil perceber quando começa o trabalho do Homem ou a infinita paciência e imaginação da natureza. Como arrumar a pedra que sobra de todo o lado: de chapa de cutelo? Erguendo muros e transformado a serra numa imensa filigrana e onde, ainda assim, sobra pedra, encastrar maroiços. No planalto os muros formam labirintos com caminhos estreitos que deambulam por entre os chousos, onde, a par com o cultivo da oliveira se apascentam vacas. Como se constrói o muro pedra a pedra? Os chousos defensivos ostentam no coroamento lajes salientes como escamas de gigantesca centopeia para evitar que os lobos saltassem para dentro dos cercados. O portal é um troço de muro mais grosseiro que se faz e se desfaz para entrada ou saída do gado. Como colocar a pedra: para cima para baixo? Nas encostas construíram-se caneiros para aconchegar os tanchões das oliveiras que, vistos de longe, são como vasos numa imensa varanda. Nos vales os muros alongam-se delimitando línguas de terra que se juntam umas às outras como afluentes de sinuosas linhas de água. Noutros troços, construíram-se socalcos, imensos degraus que seguram a terra tornada fértil à custa de estrume e suor. Como casar duas pedra tão unidas que não passa a terra, mas escorre a água? Nos vales mais abertos os muros retilíneos são perpendiculares às curvas de nível para assegurar que aquela estreita faixa de cultivo, por vezes apenas com a largura de uma junta de bois, é tão fértil como a que está a seu lado. Uma pedra tem sete camas e a ultima é em cima dos dedos dizem os serranos que, sem pensar que o seu trabalho artesanal iria transformar esta paisagem em permanente construção, vivem neste reino calcário de terra escassa, de pouca água, onde os muros de pedra solta humanizam a paisagem transformando-a numa imensa obra de arte coletiva.
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Categoria ARTEFACTOS: Mantas de Mira de Aire
TEXTO DE ENQUADRAMENTO
A luta gigantesca travada pelo homem, procurando arrancar do solo estéril os parcos meios de subsistência que este recusava dar-lhe fomentou a pastorícia e abriu caminho para o fabrico das mantas e de panos grossos. Os homens válidos viam-se obrigados a lançar-se no comércio de lã, das peles, da cera e dos desperdícios não tardando a cruzar o país em todas as direções, comprando e vendendo mantas, cebo, azeite e velas. Os velhos e as crianças ficavam entregues à pastorícia, enquanto que as mulheres, em teares rudimentares fabricavam as mantas e os panos grossos.O fabrico das mantas já remonta ao século XVIII. Em 1712, segundo o Padre António Carvalho da Costa na sua biografia Portuguesa (Lisboa 1706-1712) falava na existência de 180 teares.
Já o professor Adolfo dos Santos Batista, evidência e dá testemunho do sector do comércio e da indústria de Mira de Aire em 1931, da seguinte forma:
“É digno de admiração este povo! Os mirenses percorrem todo o país, fazendo o seu negócio, que se exerce principalmente na compra de peles, lãs e algodão, fabricam lindas mantas, para vários gostos e preços. A maior venda de mantas faz-se nas feiras do Alentejo e Algarve.”
Aliado ao fabrico e negócios descritos, está um linguajar próprio com que os mirenses se defendiam e combinavam preços entre si, o calão dos negociantes.O peso que o fabrico de mantas teve na freguesia, está bem patente em versos e canções:
Tecedeiras – (excerto) Revista Isto é Mira de Aire (1958)
É este belo fiado
Que faz as mantas de cor,
Cá na terra fabricado,
E focava neste primor.E estas cores tão belas,
Assim redondas, e compridas,
Encarnadas e amarelas,
São desfeitas em canelas
Pelas mãos das raparigasEm 1958 havia 10 oficinas de tecelagem manual de mantas regionais, atualmente existe apenas 1 oficina.
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