É por isso que lutamos

Homenagem às Mulheres do Concelho de Porto de Mós – 10 de março de 2019

Desde os tempos em que fizeram da costela do homem o ventre da mulher
Que lutamos.

Desde que nos queimaram em fogueiras
Por sermos mulheres inteiras
Por a nossa alquimia ser afinal feitiçaria
Que lutamos

Desde que às emoções roubaram a beleza
Porque afinal o nosso amor
Era a nossa a maior fraqueza
Que lutamos

Desde que nas histórias somos escolhidas e não escolhemos
Ora pelos homens que nos encontram, ora pelos pais que nos oferecem
E que entregamos a outros as linhas com que nos tecem
Que lutamos

Desde que a nossa vontade não conta
A inteligência nos penaliza
Só a vida do outro nos realiza
Que lutamos

Desde que fizeram da casa a nossa prisão
Da maternidade obrigação
E da impossibilidade de gerar amputação
Que lutamos

Desde que o corpo se cobriu envergonhado
O prazer se esvaiu em culpa
E a sedução se proibiu em pecado
Que lutamos

Hoje, finalmente quase iguais, aos olhos da Lei
Muitos não compreendem sequer
O que mais ainda quer a mulher
É por isso que lutamos.

Porque a igualdade não se decreta.
Interioriza-se.
É por isso que lutamos…

Porque trazemos em nós todo o peso do mundo
E à herança dos tempos antigos somam-se as exigências dos tempos modernos
E com eles um sentimento de culpa profundo
Por julgarmos estar sempre aquém
Da mulher perfeita que em si contém
Todas as virtudes na medida certa.
É por isso que lutamos.

Por um futuro de porta aberta
Por um mundo de todas as cores
Onde rosa é apenas uma flor
É por isso que lutamos

Porque o mundo que nos agride é o mesmo que nos idolatra
Não queremos ser menores
Não queremos ser maiores
Queremos ser mulheres.
Imperfeitas
Livres
Felizes
É por isso que lutamos.

Filipa Martins Louro