Exposição - Registos dos santos: quando o sagrado se torna arte
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A primeira pagela que Maria Teresa Martins Narciso (Mariazinha Martins) se recorda de ter visto, nos seus 94 anos de vida, pertencia à sua avó. Uma recordação que a avó teria recebido das mãos do padre, aquando da sua primeira comunhão e que muito marcou a pequena Maria Teresa. Tanto que, tendo herdado a dita pagela, valorizou-a de tal forma que decidiu preservá-la o melhor que pôde. Nascia aqui o seu gosto pelos Registos dos Santos, como o que vemos na imagem e como aquela dezena de peças que podemos ver no Museu Municipal de Porto de Mós, até dia 04 de fevereiro.
Para já, esta primeira exposição nasce da obra criada por Mariazinha Martins, natural da Mendiga, concelho de Porto de Mós, que durante cerca de duas décadas, entre o início dos anos 80 e os finais dos anos 90 do século passado se dedicou à preservação manual dos Registos dos Santos.
A autora inspirou-se na referida pagela com o Sagrado Coração de Jesus, que se encontrava na casa da sua avó e procurou preservá-la para as gerações futuras. Foi esse interesse que a levou a visitar exposições sobre registos de Santos, nomeadamente aos salões pertencentes às Igrejas de Nossa Senhora de Fátima e de São João de Deus, em Lisboa. Uma inspiração que a levou a fazer o seu primeiro registo com a pagela do Sagrado Coração de Jesus, e a partir dai foram vários executados.
Uma arte que, por ser pouco conhecida entre os portomosenses seria pouco valorizada entre nós, mas que noutros pontos do país, como Trás-os-Montes, Alentejo e Ribatejo, suscitou interesse. Passou a ser um hobby, que levou Teresa Narciso a criar Registos de Santos para oferecer à família e aos amigos e que, para que pudesse alcançar mais pessoas, fez com que se fizesse sócia da ASAC-Associação de Artesãos das Serras de Aire e Candeeiros.
As suas peças acabavam por vezes expostas juntamente com outros tipos de peças, levadas por colegas artesãos da Associação nas exposições em festas do Norte e na feira anual do Ribatejo, por exemplo.
Sobre o surgimento destas pagelas, Teresa Narciso explica que terão surgido em contexto religioso, como comprovativo de que os animais de criação estavam benzidos ou que teria sido cumprida alguma promessa para que tivessem saúde e se livrassem de doenças. Tal tradição seria típica de algumas zonas do nosso concelho, como Mendiga, Cabeça das Pombas (São Bento) ou Alqueidão (Arrimal): depois de benzidos os animais, o padre entregava uma pagela, que era guardada em local seguro como registo de comprovativo. Nalguns casos, os animais eram mesmo enfeitados nas cabeçadas, orelhas e cornos com fitas vermelhas. Terá sido no Norte do país que começaram a guardar as pagelas, juntamente com as fitas, dentro de dois vidros como prova de pagamento de promessa.
Estes artefactos chegam até nós com o nome de Registos, porque as imagens são registos de acontecimentos de promessas e atos religiosos, desde as promessas feitas pelos criadores de gado, até outros actos como a primeira comunhão, a profissão de fé, ou o crisma, por exemplo. Ao fazer o registo perdura-se a memória daquele acontecimento na vida da pessoa através da imagem / registo desse momento, passando de geração em geração.